domingo, 24 de agosto de 2008

O final e uma enxaqueca interminável

Seus olhos pairam pelo derradeiro capítulo, uma página e poucos parágrafos atravessam-lhe os dedos. É o final. O final tem um gosto agridoce para os humanos. Eles nunca sabem, de fato, quando será o final – Por isso, o sabor é indefinível, escolhi “agridoce” aleatoriamente para nomeá-lo.

Ah, O Final: A última vez que acenará para alguém. A última vez que deitará numa cama branda. A última vez que sentará naquela cadeira reclinável. A última vez que irá degustar a sobremesa, cuidadosamente, feita por sua avó de mãos manchadas por sóis. A última vez que brincará com sua boneca. A última vez...

Colecionava finais nas pontas dos dedos. Agora um outro entraria para sua coleção: A história de uma menina, sobrevivente num porão raso. Lá fora uma Alemanha Nazista, mil e um motivos para verter lágrimas. Mas quem o fazia era a Menina que chorava litros, mesmo com a mesa farta e a liberdade, entediante, de ir e vir.

. UM LIVRO .

A menina que roubava livros


Vi-me penalizada quando a menina que chora litros brotou do leito com dois riscos no lugar dos olhos, antes graúdos e negros. Ela despertara com pavorosas luzes, a cabeça em desacordo, a visão embaralhada e as mãos, onde estavam? Era a enxaqueca. Quando a que chora litros experimenta tais sensações sempre murmura meu nome. Muito devagar e ternamente, finjo que não a ouço e ela finge não me chamar. E ficamos assim, numa apatia jocosa.

. SINTOMAS DA ENXAQUECA .
Visão distorcida
Tontura
Vômitos
Dormência nas extremidades do corpo
Dor frontal

Se os finais escorriam-lhe por entre os dedos, sem censura... Ela estava certa de apenas algo, a de que um final não ocorreria. Apenas um! A sua enxaqueca nunca era a última. Havia sempre outra e mais outra. E quando já não se lembrava dela, havia uma outra para latejar sua memória. Era assim, infindável.

Foi inevitável não gargalhar diante da constatação da menina. Afinal, quando eu beijasse sua fronte e ela estivesse nos meus braços, não haveria mais enxaqueca. Mas ela não cogitou a minha presença. Os humanos nunca me cogitam quando estão relativamente saudáveis. Assaltá-los é delicioso. Quando isso ocorre, sinto a pulsação em seus lábios, tentando escapar uma palavra ou outra. Eles sempre querem dizer algo, algo que não disseram durante décadas. Quando inertes, lutam para dizer as tais palavras. Ah, como são tolos!

A que chora litros ergueu o peso incontestável da cabeça. Era a enxaqueca, a velha visitante, a que nunca a deixaria, aquela que segura suas mãos desde os 8 anos de idade – Irredutível, fiel.

2 comentários:

B. disse...

Enxaqueca? Por isso que ela chora litros...ninguém merece enxaqueca :(

B. disse...

Esperando mais um capitulo, hunff!

 

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