sábado, 6 de setembro de 2008

Insônia de Platão

Era sábado à noite, aquele tão esperado há cinco dias atrás, todos transbordantes de infortúnios e poucos risos. Lembro de vê-la encostada no corrimão de uma escada. Na penumbra, lia as primeiras páginas de um livro, ao passo que era tomada por Platão, idealizando cada descanso vindouro. O que não aconteceria.


. UM LIVRO NOVO .
A Cidade do Sol


A menina que chora litros tremelicava enquanto sua voz se contorcia relutante. Precisava esmurrar alguma coisa. Mas o quê? Sobrava-lhe um pouco de lucidez ao contabilizar os prejuízos da sua violência. Então, calou-se no banheiro solitário. Observou as pernas se mexerem involuntariamente, tendo espasmos redundantes. Ao espelho, apreciou os lábios protuberantes e os olhos machucados por trás dos óculos...

Afastou-se dali, deixou-se cair na cama e não dormiu. Sussurrou meu nome com a voz quebradiça e, então, emudeceu. Por um momento pediu perdão por fazê-lo.

Platão acariciava seus cabelos. E lá estava com seus 17 anos, seu jeans folgado e o tênis vermelho surrado. Lamentava-se por não ter sido tão feliz naquela época, não tanto quanto deveria. Tinha muito e quase tudo: Uma bolsa sem cartões de crédito e um braço repleto de pulseiras. Era tudo, concluíra num timbre rude.


. UMA MEMÓRIA .
Adolescência, 1997

Jamais se imaginaria num salto, tampouco trajando roupas bem passadas. Repudiou-se por ter envelhecido. A menina possuía maçãs faciais avermelhadas e gorduchas, o que disfarçavam alguns poucos cinco anos que passara POR e SOBRE ela. Ela sabia disso e agradecia, em silêncio, pelo prêmio divino.

O domingo abraça a que chora litros numa fortaleza invejável. Sabia que ele estava à espreita, pronto para o bote final. Pude ver quando ela desejou que as pálpebras desmoronassem no seu rosto, para que ela fugisse dali, daqueles dias repetidos e sem trégua. Fugir da pouca sorte que crescia resistente como uma erva daninha no seu jardim.

E Platão entendia-lhe bem. Mas estava certa que suas lágrimas, não. Estas nem o imaginário poderia pousar a sua ficção para compreendê-las.

A menina revirou-se e, mais uma vez, não dormiu.

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